
Pais muitas vezes acreditam que sessões extras com treinadores particulares potencializam a performance de seus filhos, mas ignoram riscos técnicos, psicológicos e éticos envolvidos na falta de coordenação com a equipe oficial do clube.
1 – Dissonância técnica e risco de lesões
Clubes estruturam ciclos de treino (macrociclos, mesociclos e microciclos) para equilibrar estímulos e descanso, minimizando o desgaste físico e prevenindo lesões por uso excessivo.
Profissionais externos, sem acesso ao histórico completo do atleta, frequentemente adicionam sessões que se sobrepõem ao programa oficial, potencializando o supertreinamento, a fadiga crônica e o surgimento de lesões por estresse repetitivo.
2 – Confusão psicológica e prejuízo à autonomia
Orientações conflitantes de diferentes treinadores geram incerteza sobre em quem confiar, elevando níveis de ansiedade e insegurança mental no jovem atleta.
Esse feedback fragmentado impede a internalização do processo evolutivo, fazendo com que o atleta dependa de soluções pontuais em vez de desenvolver autonomia e capacidade crítica sobre seu próprio treino.
3 – Ética e obrigações contratuais
Os códigos de conduta de federações e confederações exigem que todo treino seja autorizado pela entidade responsável, garantindo transparência, integridade e cumprimento das normas disciplinares.
Além disso, padrões internacionais recomendam que treinadores sigam diretrizes éticas claras, evitando conflitos de interesses e a prática de atividades não supervisionadas pelo clube, sob pena de sanções técnicas e legais.
4 – Autoridade exclusiva do clube
Somente o clube possui visão integrada do planejamento – que inclui acompanhamento multidisciplinar em fisioterapia, nutrição e psicologia esportiva – e detém a responsabilidade legal pelo atleta.
Pais que introduzem treinos paralelos corroem essa autoridade, criando hiatos de hierarquia e confundindo o jovem sobre quem realmente detém o poder de decisão em seu desenvolvimento.

5 – Terceirização da culpa por resultados
Quando o rendimento é abaixo do esperado, pais e atletas muitas vezes responsabilizam o clube, ignorando que a própria “Síndrome do Treino Paralelo” introduziu variáveis não controladas que prejudicaram a preparação.
Essa terceirização de culpa não apenas mina a confiança na comissão técnica, mas impede uma avaliação honesta do programa de treino, culpando quem não teve liberdade para conduzir o processo de forma coerente.
Conclusão
A prática de treinos paralelos, motivada por boas intenções dos pais, compromete o equilíbrio físico, emocional e ético do atleta.
A única via segura passa pela adesão rigorosa ao programa oficial do clube, cuja equipe técnica possui a legitimidade e a visão necessária para promover o desenvolvimento saudável e sustentável do jovem esportista.

Coordenador de Projetos da RSP Sports, com mais de 16 anos de experiência na áreas de gestão e assessoria esportiva.